quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O FIM DOS ADVOGADOS

FIM DOS ADVOGADOS

O ano é 2.210 D.C. - ou seja, daqui a duzentos anos - e uma conversa entre avô e
neto tem início a partir da seguinte interpelação:

– Vovô, por que o mundo está acabando?

A calma da pergunta revela a inocência da alma infante. E no mesmo tom vem a
resposta:

– Porque não existem mais advogados, meu anjo.

– Advogados? Mas o que é isso? O que fazia um advogado?

O velho responde, então, que advogados eram homens e mulheres elegantes que se
expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, lutavam pela
justiça defendendo as pessoas e a sociedade.


– Eles defendiam as pessoas? Mas eles eram super-heróis?

– Sim. Mas eles não eram vistos assim. Seus próprios clientes muitas vezes não
pagavam os seus honorários e ainda faziam piadas, dizendo que as cobras não
picavam advogados por ética profissional.

– E como foi que eles desapareceram, vovô?

– Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, pois todo super herói tem que
enfrentar um super vilão, não é? No caso, para derrotar os advogados esse super
vilão se valeu da “União” de três poderes. Por isso chamamos esse super
vilão de
“União”..

– Por meio do primeiro poder, a União permitiu a criação de infinitos
cursos de
Direito no País inteiro, formando dezenas de milhares de profissionais a cada
semestre, o que acabou com a qualidade do ensino e entupiu o mercado de
bacharéis.

– Com o segundo poder, a União criou leis que permitiam que as pessoas movessem
processos judiciais sem a presença de um advogado, favorecendo a defesa de
poderosos grupos econômicos e do Estado contra o cidadão leigo e ignorante. Por
estarem acostumadas a ouvir piadas sobre como os advogados extorquiam seus
clientes, as pessoas aplaudiram a iniciativa.

– O terceiro poder foi mais cruel. Seus integrantes fixavam honorários
irrisórios para os advogados, mesmo quando a lei estabelecia limite mínimo! Isso
sem falar na compensação de honorários.

– Mas o terceiro poder não durou muito tempo. Logo depois da criação do
processo
eletrônico, os computadores se tornaram tão poderosos que aprenderam a julgar os
processos sozinhos. Foi o que se denominou de Justiça “self-service”. Das
decisões não cabiam recursos, já que um computador sempre confirmava a decisão
do outro, pois todos obedeciam à mesma lógica.


– O primeiro poder, então, absorveu o segundo, com a criação das ´medidas
definitivas´, novo nome dado às ´medidas provisórias´ . Só quem poderia fazer
alguma coisa eram os advogados, mas já era tarde demais. Estes estavam muito
ocupados tentando sobreviver, dirigindo táxis e vendendo cosmético s. Sem
advogados, a única forma de restaurar a democracia é por meio das armas.

– E é por isso que o mundo está acabando, meu netinho. Mas agora chega de
assuntos tristes. Eu já contei por que as cobras não picam os advogados ?



Autoria Desconhecida
OAB/DF - Comissão de Valorização da Classe.